Homenagem a Scott Weiland

Ontem de manhã o mundo do rock foi sacudido por uma notícia terrível. Scott Weiland, a voz lendária dos Stone Temple Pilots e do Velvet Revolver havia sido encontrado morto em seu ônibus de turnê, aos 48 anos.

Caso não saibam, Weiland sempre foi um dos meus vocalistas favoritos. Sua voz inconfundível, rouca, forte, sensual e cheia de personalidade está por trás de "Interstate Love Song", a música da minha vida, e de tantas outras faixas incríveis de tudo o que participou na carreira. Sua presença de palco, interpretando e incorporando, se movendo com uma selvageria controlada e planejada, sentimental. Os cabelos ruivos. O olhar profundo. O modo como sua voz conduzia a música. Tudo isso me fez cultivar uma enorme admiração por sua persona musical. Por isso foi tão difícil digerir uma notícia triste e repentina como essa, especialmente quando ele expressava seu desejo de voltar ao STP.

Um dos sites que publicou essa notícia disse que "no auge da fama, o grupo foi criticado por soar parecido demais com o Nirvana e o Pearl Jam". Ao ler isso, decidi que precisava escrever esse texto, homenagear tanto Scott como os outros membros do STP: os irmãos Dean (guitarra) e Robert (baixo) DeLeo e o baterista Eric Kretz. Primeiramente, quem quer que seja que escreveu essa frase absurda nunca ouviu Nirvana, Stone Temple Pilots ou Pearl Jam. As propostas dos três grupos sempre foram muito diferentes: o Nirvana foi um filhote bastardo do hardcore punk com o heavy metal de raiz; o Pearl Jam sempre soou mais melancólico e soturno e o STP puxava mais para um hard rock setentista, atualizado e potente. Como comparar os tênis surrados e camisas de flanela gigantes do Nirvana com as calças de couro super apertadas de Scott, que se parecia muito mais com Jim Morrison do que com Kurt Cobain?

Core, a obra prima da banda, é essencialmente um trabalho cheio de groove e peso. Clássicos como "Plush", "Sex Type Thing", "Wicked Garden", "Creep" e as menos conhecidas "Naked Sunday", "Crackerman" e a fantástica faixa de abertura, "Dead & Bloated", merecem atenção de qualquer roqueiro que se preze. Os riffs de Dean DeLeo arrepiam a nuca e fazem você querer dançar, pular, gritar, bater cabeça; liberar toda essa energia contida dentro de você. É uma pena que, das cinco grandes bandas grunge (Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden e STP), os Pilots sejam os mais menosprezados, na minha opinião. Será que é porque não são de Seattle? Porque são 'festivos' demais? Não importa. Meu amor e admiração por eles precisa ser expressado.

Infelizmente, apesar de toda essa amarração musical, Scott se afundou nas drogas cada vez mais - a decorrência de seu vício pode ser vista examinando as videografias das bandas em que tocou. Após muita indisciplina e problemas de relacionamento com seus colegas, o Stone Temple Pilots anunciou seu fim em 2002. Isso foi ruim, claro, mas deu a ele e ao mundo a chance de conhecer o Velvet Revolver, um dos supergrupos de mais sucesso da história do rock moderno.

O Velvet Revolver juntava todo o carisma e capacidade vocal de Scott com Slash, Duff McKagan e Matt Sorum, ex-Guns N' Roses, e Dave Kushner, do Wasted Youth. Resumindo bem, foi uma cacetada hard rock nos ouvidos de muita gente. Contraband (2004), o excelente álbum de estreia do grupo, perfeito para viagens de carro, já abre com a pedrada "Sucker Train Blues", e conta com as conhecidíssimas "Slither", que ganhou o Grammy de Melhor Performance de Hard Rock em 2005, "Dirty Little Thing", "Set Me Free" e a balada corta coração "Fall to Pieces", cujo clipe (que mostra Scott quase morrendo de overdose) me deixou em frangalhos ontem. Libertad, o segundo e não menos sensacional álbum do grupo, saiu em 2007 com "She Builds Quick Machines" como carro chefe. No mesmo ano, o grupo veio ao Brasil para abrir o show do Aerosmith em São Paulo e fazer uma apresentação solo no Rio de Janeiro.

Em 2008, o Velvet entrou em hiato e o STP se reuniu. Dois anos depois lançou seu último álbum, autointitulado, que conta com uma das minhas faixas preferidas: "Between the Lines". Scott lançou três álbuns solo, um em 1998, um em 2008 e outro em 2011, e em 2013 foi demitido dos Pilots por conta de seu mau comportamento e abuso de drogas. Porém, a banda continuou sem ele, colocando Chester Bennington (sim, o vocalista do Linkin Park) no microfone, causando rejeição e estranheza de muitos fãs. Scott saiu em turnê em 2015, como Scott Weiland & The Wildabouts, e o STP seguiu com Chester até novembro de 2015, quando ele anunciou que iria focar somente no Linkin Park e em sua vida pessoal.

O abuso de drogas de Weiland se tornava perceptível em sua aparência física, isso é um fato, especialmente porque seu problema era com heroína e crack. Mas eu honestamente não esperava abrir um site de notícias e me deparar com o anúncio de sua morte precoce. Está sendo difícil aceitar, eu confesso. A morte de um músico não me atingia tanto desde Ronnie James Dio, em 2010; ou Amy Winehouse, em 2011. Prefiro focar aqui em suas qualidades musicais e como frontman do que em seus problemas com drogas.

Fica aqui a minha homenagem a um homem cuja música eu admiro muito, muito mesmo. Seu talento musical serviu como trilha sonora de grande parte da minha vida. Me dói saber que nunca vou vê-lo ao vivo (embora estivesse com a voz um tanto prejudicada no show no festival SWU, no interior de São Paulo, em 2011), mas seu legado continua vivo enquanto seus fãs ouvirem sua música e o celebrarem. Vai em paz, Scott. O rock n' roll brilha um pouco menos sem você aqui na terra.





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