Cathy no Monsters of Rock - 26/04/2015

Como eu disse no meu post anterior, o domingo de Monsters foi um sofrimento, por conta do lineup, composto quase que inteiramente por bandas de power metal, gênero do qual eu não consigo gostar. Aí vocês me perguntam, mas por que você foi se não gostava de nenhuma banda? Porque simplesmente a minha banda preferida, o Kiss, iria encerrar o festival. Logo que isso foi divulgado, estava decidido que eu iria. Simples assim.

O lineup foi o seguinte: Doctor Pheabes, Steel Panther, Yngwie Malmsteen, Unisonic, Accept, Manowar, Judas Priest e Kiss. O Doctor Pheabes é uma banda brasileira que conquistou espaço firme no cenário hard rock atual, com muitas influências de clássicos como Van Halen e Whitesnake, e tocou no Monsters 2013, além do Lollapalooza 2015 e ter feito a abertura de shows do Seether e Guns N' Roses. O Steel Panther é uma das bandas mais populares da atualidade entre os fãs do glam metal oitentista, fazendo sátiras a todos os expoentes do gênero - são praticamente um Spinal Tap da atualidade, revivendo todos os chavões. Yngwie Malmsteen é um guitarrista virtuoso sueco, precursor do que ele chama de 'metal neoclássico', que mistura metal com música clássica, e é conhecido pela quantidade de notas que toca por segundo e por ter um 'ouvido absoluto', ou seja, a capacidade de distinguir as notas musicais de qualquer fonte.

O Unisonic é um supergrupo de power metal formado por Michael Kiske e Kai Hansen, ambos ex-vocalistas do Helloween, banda criadora do estilo. Conta também com ex-membros do Krokus e do Pink Cream 69, bandas tradicionais da Suíça e da Alemanha. O Accept é provavelmente o grupo de rock alemão mais famoso depois do Scorpions, conhecido pelo megahit de hard rock "Balls to the Wall".

O Manowar é um grupo americano conhecido, primariamente, por sua megalomania e pelo som alto. Muito alto. Eles se apresentam como guerreiros do heavy metal (ou "true metal", como eles se autoproclamam), cantando sobre batalhas épicas e morte ao falso metal. Sua base de fãs está localizada principalmente na América do Sul, Europa e Japão. O Judas Priest dispensa apresentações, e o Kiss faz a sua própria desde 1975, na introdução de cada show: a banda mais quente do mundo!

Como talvez se possa perceber, eu não sentia nenhum carinho ou curiosidade especial por nenhuma banda do lineup com exceção do Priest e do Kiss, mas resolvi chegar mais cedo do que a minha vontade por conta da fila do dia anterior, na qual perdi duas horas. Aparentemente, a produção levou em consideração todas as críticas sobre a má organização da entrada nas redes sociais, porque quando eu cheguei não havia nenhuma fila para entrar ou ir ao banheiro. Na hora em que eu entrei, dava para se perceber a diferença - o Accept estava no palco, e o som estava visivelmente mais alto do que no dia anterior.

Eu não conhecia nada do Accept além de "Balls to the Wall" e "Fast as a Shark". Era aproximadamente a metade do show deles, que seguia uma levada bem power metal. Nada que me empolgasse, mas em certos momentos cedi ao headbanging frenético feito pelos outros presentes. Foi uma apresentação competente, haviam muitos fãs da banda ali cantando junto todas as músicas, o som estava ótimo e os músicos são excelentes. Só não saí de lá mais tentada a conhecer o som da banda porque percebi que eles estavam envergando mais para o power metal do que para o som mais tradicional que eu prefiro.

Pelo que eu conheço sobre heavy metal (e não é pouco), sei que o Manowar é uma banda do tipo "ame ou odeie", pelo menos para quem manja do estilo. Os fãs, chamados de "Manowarriors", são devotados - muita gente que circulava pela pista usava camisetas ou tinha tatuagens da banda; mas aqueles que não gostam, consideram a banda uma grande piada por conta da seriedade com que encaram sua pose de "guerreiros épicos do metal". Eu faço parte da segunda turma, o que me faz ter uma opinião tanto quanto imparcial sobre o show.

Primeiramente, devo dar crédito ao grupo: os músicos são competentes e certamente existe público para isso - eu seria cega em não admitir isso. Mas as letras sobre batalhas épicas, a pose de guerreiros, as guitarras melódicas, os figurinos, as capas dos álbuns, os discursos e a seriedade com que tudo isso é tratado é um pouco demais para mim, grande fã do hard rock 'zoeiro' do Mötley Crüe e do Van Halen de David Lee Roth, ou do thrash metal violento do Pantera. É sempre difícil assistir a um show de uma banda da qual você não gosta, mas eu não fiz como os fãs mal educados do Motörhead que vaiaram o Black Veil Brides no sábado. Eu me mantive calada, aplaudi a banda no final do seu show e fiquei pensando comigo mesma quanto tempo demoraria para acabar. Houveram momentos legais, como a participação de Robertinho do Recife, monstro da guitarra brasileira, em "Metal Daze", e o vídeo em homenagem a pessoas importantes para o Manowar que já morreram - entre elas, Ronnie James Dio, merecedor de aplausos de qualquer admirador do estilo.

Mas o pior do show do Manowar não foi o figurino do vocalista, nem as músicas - foi o volume ENSURDECEDOR. Depois de uma rápida pesquisa sobre o grupo na internet, fiquei sabendo que eles detêm um recorde de show mais alto do mundo. Todo bom fã de rock n' roll curte um som alto, mas o show do Manowar chegava a ser desconfortável - no fim do show, enquanto o baixista destruía seu instrumento e arrancava as cordas, o barulho chegava a incomodar os tímpanos, e uma amiga que estava mais na frente me disse que arrancou a pulseirinha de maior de idade para colocar no ouvido, porque o volume estava muito desconfortável. Queremos som alto, sim, mas também queremos continuar tendo ouvidos para prestigiar outras bandas no futuro.

O show do Judas Priest foi praticamente idêntico ao do dia anterior, com um setlist ligeiramente mais curto - sem "Love Bites" e "You've Got Another Thing Comin'", mas não menos empolgante. Não vou me estender porque acho que já disse tudo o que havia para ser dito sobre a banda no post anterior, mas acho que aproveitei um pouco menos o segundo show por conta da minha ansiedade para ver o Kiss.

Eu nunca tinha ido a um show do Kiss. Já tinha visto vários pela internet, é claro - quem é que não conhece os shows dos quatro caras maquiados, com letreiros luminosos e efeitos pirotécnicos? -, mas ao vivo, a experiência é completamente diferente. É claro que tudo é friamente calculado, desde o pano que cobre o palco até que todo o aparato seja montado, e é exatamente isso o que garante um espetáculo de rock n' roll perfeito, mesmo que a banda não esteja no auge de sua forma física - é necessário lembrar que Gene Simmons e Paul Stanley são senhores de sessenta e tantos anos de idade.

O lado ruim de ir a um show da sua banda preferida é saber que nunca, jamais, vão tocar todas as músicas que você mais quer ouvir. A maioria das minhas preferidas são cantadas por Ace Frehley e Peter Criss (eu fui com a maquiagem do Spaceman ao show), o guitarrista e o baterista originais da banda, ou seja, impossíveis de serem tocadas. O setlist não fugiu do que já havia sido tocado nos shows anteriores (foi até mais curto, já que "Hide Your Heart", uma das melhores faixas de Hot in the Shade, de 1989, havia sido tocada nos shows anteriores e não rolou aqui). Os arrepios já começaram com o tradicional vídeo da banda pronta para entrar no palco, saindo do camarim, e a frase repetida aos berros por todos - "vocês querem o melhor, conseguiram o melhor, a banda mais quente do mundo, Kiss!". Eu já estava sem voz desde o show do Judas Priest, mas tirei forças não sei de onde para cantar, aos berros, todas as músicas da banda que eu amo.

O setlist passou pelos álbuns mais clássicos da banda - Destroyer, de 1978 e Creatures of the Night (1982) foram os que mais receberam atenção, com direito a execuções de "Detroit Rock City", "Creatures of the Night", "I Love It Loud", "War Machine" e "Do You Love Me?" logo no início, praticamente em sequência - no meio dessas, "Psycho Circus", que remonta a algumas das minhas lembranças mais antigas de ver clipes do Kiss maquiado na MTV, no final dos anos 90. Ao fim de "War Machine", Gene Simmons cospe fogo, para delírio dos presentes, que além de ouvir o Kiss, esperam por um show de efeitos pirotécnicos e luzes.

A próxima música anunciada é do primeiro álbum da banda - "Deuce", uma das minhas preferidas. O único momento em que o calor do público parece diminuir levemente é em "Hell or Hallelujah", faixa de Monster (2012), o último álbum da banda. Mas o clima retorna com dois clássicos - "Calling Dr. Love", para mim uma das faixas que mais traduz o que é o Kiss: festivo, sexual, convencido, roqueiro e divertido; e "Lick It Up", megahit safado do álbum que chocou o mundo quando a banda tirou a maquiagem e mostrou ao mundo como eles eram feios (é brincadeira, mas não deixa de ser verdade).

Então, Gene Simmons é suspenso e voa até uma plataforma na parte superior do palco, aonde começa seu tradicional solo de baixo, seguido por sua marca registrada, "God of Thunder", na qual O Demônio do Kiss diz que foi criado pelo demônio (a música foi escrita por Paul Stanley). Em seguida, ele cospe sangue. E nós, os membros devotados da Kiss Army, vamos ao delírio. O Starchild anuncia que a próxima música não costuma rolar em shows e que é do álbum Alive!. A faixa é "Parasite", que realmente está presente em Alive!, mas é originalmente de Hotter than Hell. Gostei dela ter entrado no setlist, mas preferia outros clássicos que também estavam no lendário álbum ao vivo, como "Nothin' to Lose", "Cold Gin" ou "C'mon and Love Me".

A próxima é "Love Gun", a música que fez com que eu me apaixonasse perdidamente pelo Kiss, por estar na abertura do filme Detroit Rock City - e também é a música na qual Paul Stanley voa em uma tirolesa para uma plataforma no meio da plateia, que está coincidentemente localizada bem pertinho de mim. Só senti a mesma sensação louca de ter um ídolo de carne e osso tão perto desse jeito no Monsters 2013, quando fiquei na grade do show do Aerosmith. A minha voz estava reduzida a um rosnado rouco e horrível, mas foi com ela mesmo que eu berrei visceralmente a letra dessa música que significa tanto para mim, para essa banda que significa tanto para mim. Amor pela música é assim - a gente ama tanto que tem que gritar com todas as forças para expressar isso.

Ainda na plataforma, Paul Stanley recebe sua famosa guitarra de estilhaços de espelho e começa a linda introdução de "Black Diamond". Ao final da primeira estrofe da música, ele voa de volta para o palco, enquanto o baterista Eric Singer continua cantando. Decididamente uma experiência bonita e memorável. O problema é que eu conheço muito bem a estrutura do setlist da turnê e sabia que o fim estava próximo, e aquela era a deixa para o encore.

Paul Stanley pergunta o que o público quer ouvir, e, por integrar uma banda com vinte álbuns de estúdio no currículo, recebe milhares de respostas diferentes. Ele toca mais uma de Destroyer, "Shout It Out Loud". Eu não tinha muita voz para gritar, mas continuei massacrando minhas cordas vocais com toda a potência que conseguia. Em seguida rolou "I Was Made for Lovin' You", clássico absoluto (e a faixa que eu menos gosto) do álbum Dynasty, um dos meus favoritos, com influência de música disco, e a derradeira "Rock N' Roll All Nite", acompanhada por uma chuva de papel picado lindíssima, e efeitos de luz e fogo igualmente impressionantes, berrada com o que restava da voz dos presentes.

Isso confirmou o que eu já ouvia dizer há um bom tempo - o Kiss não dá show, faz um espetáculo. Teatral e mágico, me faz sentir em uma história em quadrinhos, estrelada pelo Starchild, The Demon, Spaceman e Catman, cheia de efeitos de luz e fogo, embalada por boa música, glorificando a diversão e o amor, na qual eu sou parte do exército do hedonismo. Eu não chorei, mas cheguei perto, em alguma das primeiras músicas (acho que foi "Psycho Circus"), quando o telão exibia uma espécie de retrospectiva de momentos importantes da banda, com fotos do meu amado Ace Frehley (um dos meus maiores ídolos rock n' roll), de Peter Criss, a voz por trás das melhores baladas românticas do Kiss, e do falecido Eric Carr, o The Fox.

Pois é, o sacrifício valeu a pena. Eu quis o melhor, eu tive o melhor, a banda mais quente do mundo, Kiss! E, claro, realizei meu sonho de ver Gene Simmons, Paul Stanley e Tommy Thayer (já que não posso ver Mr. Frehley) fazendo a clássica dancinha com as guitarras. Fiquem com a minha foto maquiada de Spaceman.



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