Resenha: Suicidal Tendencies - How Will I Laugh Tomorrow If I Can't Even Smile Today (1988)

Para qualquer fã de hardcore, esse álbum é um clássico. O terceiro trabalho do Suicidal Tendencies, os pioneiros do crossover thrash (estilo que mistura hardcore tradicional com thrash metal, criando uma música rápida e pesada), mostra que a banda começa a colocar mais metal em seu caldeirão de influências, dando origem a algumas de suas músicas mais conhecidas. How Will I Laugh Tomorrow... também marca a entrada do segundo guitarrista Mike Clark, possibilitando linhas de guitarra mais elaboradas por parte de Rocky George.

As músicas da banda são tão sutis quanto um chute no saco. Com letras tratando principalmente de transtornos mentais ("Trip at the Brain", primeira faixa do álbum, teve John Cusack em seu clipe, exibido em rotação pela MTV, começa com uma voz dizendo "there's nothing wrong with this brain!" (não há nada errado com esse cérebro), enquanto descreve, em ritmo thrash, como é viajar por um cérebro desequilibrado), a música segue uma levada bem característica do estilo, com baixos funkeados marcantes, baterias marteladas e riffs de guitarra puxados do punk, mas com atitude heavy metal, principalmente nos solos.

"Pledge Your Allegiance", clássico absoluto, mostra um pouco do fanatismo semi religioso que o grupo criou em torno de si - o refrão, pontuado por coros de "ST!", termina com "as long as your heart beats, pledge your allegiance" (enquanto seu coração bater, jure sua lealdade) e, como é comum no repertório do Suicidal, o nome do grupo se repete várias vezes. O suicídio, aliás, é uma temática recorrente da banda: "Suicidal Maniac", "Suicide's an Alternative", "Suicidal Failure" e "Suicyco Mania" são alguns exemplos.

"How Will I Laugh Tomorrow" começa como uma boa 'balada metal': na primeira vez em que ouvi essa música, custei a reconhecer que era o Suicidal cantando, por conta do riff melódico. A voz de Mike Muir, fundador e único membro constante do grupo, é inconfundível, claro, mas o andamento da faixa começa lento demais para os padrões de uma banda hardcore. A transição para o estilo característico da banda é bem parecida com "Hollow", do Pantera - repentina.

"The Miracle", em alguns momentos, parece ter influenciado "Don't Thread on Me", do Metallica, que veio ao mundo quatro anos depois. "Suicyco Mania" e "Surf and Slam" retomam a pegada típica da banda, misturando funk, hardcore, surf music e heavy metal num estilo que também ficou conhecido como skate punk - a música preferida dos punks californianos em suas aventuras de skate.

"If I Don't Wake Up", outro clássico com temática pessimista da banda, se aproveita de solos de guitarra competentes e da técnica de discurso de Mike Muir - ele começa recitando a letra, parecendo que está falando ao invés de cantar. "Sorry!?" mantém a mesma pegada frenética, dando mais aceleração a esse disco que é o mais sofisticado da banda até então, com músicas com maior duração e mais ênfase nas melodias. Na minha opinião, o riff de "Sorry!?" é o melhor do álbum.

Hardcore não é música politicamente correta, e, para quem curte esse tipo de som, é impossível escutar e ficar parado. O Suicidal é uma banda cuja música provoca muita adrenalina, e é ideal para se escutar enquanto se anda por uma cidade movimentada, com seu skate debaixo do braço, liberando (mesmo que em seus pensamentos mais secretos) o instinto violento que existe dentro de cada um de nós - afinal, é muito melhor aliviá-lo na música do que em pessoas de verdade.


Comments

  1. Acho que é o único que eu conheço do Suicidal. Gosto muito dessas temáticas de doença mental e tudo mais. Ótima resenha :)
    ;**

    Red Behavior

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